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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Juremir Machado da Silva - Cai a Noite Sobre Palomas


Juremir Machado da Silva - Cai A Noite Sobre Palomas - Editora Sulina - 1995

A página 36 deste livro, pergunta o personagem: "Ainda é possível escrever-se um romance de ideias?" Com Cai a noite sobre Palomas Juremir Machado da Silva responde: sim, ainda é possível escrever um romance de ideias.
Ideias não faltam a Juremir, como sabem seus numerosos leitores.
Sua inquietude levou-o a explorar variados campos do conhecimento: é um homem sintonizado com a problemática intelectual de nossa época. Não por outra razão passou, recentemente, quatro anos em Paris, a cidade para a qual convergem todos os caminhos do pensamento. Não apenas isto; suas entrevistas colocaram os leitores em contato com figuras exponenciais (ou, ao menos, polêmicas). Esta experiência também faz-se presente no romance: Baudrillard ali está, e Elisabeth Roudinesco, e Habermas, Allan Bloom, Alain Filkielkraut, Clifford Geertz... Mas não se trata de uma postura de genuflexa admiração; Juremir desconfia da "vaidade cultural" (p.81). Por isso, volta constantemente as raízes. O pampa ali está, e também a grande cidade brasileira, a universidade onde arde, furiosa, a fogueira das vaidades. Uma visão que sem dúvida provocará polêmica mas Juremir nunca fugiu a polêmica e não será no texto ficcional que o fará. "A verdade depende do ângulo", diz o inspetor a página 114, e ele aqui apresenta o seu ângulo de visão, a sua mirada que muitos talvez considerem insolente, mas que sem dúvida é autêntica. E abrangente; as grandes questões de nosso tempo, o papel da esquerda no mundo pós-Muro, a posição dos intelectuais, a função da arte e da literatura, tudo nestas 264 páginas. Junto, um retrato do Brasil atual: ali está Zelia bloqueando a poupança, ali estão os meninos que "caem na cola e na maconha". Mas não se trata apenas de posições, de opiniões de análise, há aqui uma historia, desdobrada em vários cenários, uma história que se sustenta como ficção. Uma ficção, alias, que nada tem de experimental ou de hermética; o autor evoca a época em que "os romances revestiam os homens comuns com qualidades insuspeitadas". Os autores que lhe servem de modelo são Tchecov, Doistoievski, Musil. É preciso redescobrir o valor dos clássicos, diz o personagem Inácio Silveira (sem dúvida um alter ego do autor), ele mesmo empenhado numa jornada de redescoberta.
Cai a noite sobre Palomas revela uma nova face de Juremir Machado da Silva, mas, para aqueles que o acompanham no jornal, não será uma face de todo desconhecida. Ali está o autor que se move com desenvoltura no mundo das palavras, o autor capaz de mergulhos audaciosos na torrente impetuosa das ideias.

Moacyr Scliar

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